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Padre Ignacio Larrañaga

Milhares de pessoas têm recuperado
a alegria e o encanto da vida.

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Frei Ignacio Larrañaga

TEMPO DE QUARESMA

SALMO 50(51) (salmo penitencial)

Para muita gente, ainda hoje, o salmo 50(51) é uma música de tom menor, composta de melodias tristes e ecos sombrios.

Apesar de sentirmos ao longo do salmo pertinaz e obsessiva presença do pecado jamais soa o mais longínquo eco dos complexos de culpa. Em nenhum momento percebemos os sentimentos de culpa rondando os muros do salmista. Jamais o vemos cair no remoinho da autopunição.

Uma coisa é a humildade, e outra é a humilhação. A humildade é filha de Deus e a humilhação é filha do orgulho. A humildade é uma atitude positiva, a humilhação é autodestrutiva. No fundo dos complexos de culpa levanta-se incessantemente o binômio da morte: vergonha-tristeza. De fato, em última análise, os complexos de culpa se reduzem a esses dois sentimentos combinados. No fundo desses complexos agita-se um sentimento de vingança contra si mesmo: a pessoa irrita-se consigo mesma porque se acha pouca coisa. Indigna-se e fica com raiva por ser assim, incapaz de agir segundo os critérios de Deus e da razão, segundo os cânones de um ideal.

Humilha-se, vive atormentando a si mesma porque não aceita suas limitações e impotências, envergonhada e triste por ser tão pouco, tão impotente para agir segundo os princípios da retidão. É provável que em última análise a mãe que dá à luz esses sentimentos seja o complexo de onipotência, ferido e derrotado por ver que não consegue voar pelas alturas do ideal e da santidade.

Esses sentimentos foram cultivados deliberadamente em nós, como se nos dissessem: você tem que se humilhar, castigar, envergonhar, arrepender-se porque é um miserável, um rebelde que não merece misericórdia… Era preciso fazer penitência para merecer a misericórdia divina, esquecendo-se de que, mesmo que se faça penitência até o fim do mundo, a misericórdia não se merece, se recebe.

No fundo de todos esses complexos de culpa, deliberadamente inculcados e cultivados, na base dessa atitude autodestrutiva, está uma teologia profundamente desenfocada, e isso é o mais grave. Satisfazer a justiça divina e acalmar os impulsos vingativos de Deus? Que Deus? Um Deus vingativo, sanguinário e cruel? De onde saiu esse Deus? Um Deus a quem é preciso aplacar com penitências e castigos mentais contra si mesmo? De que montanha, de que selva saiu esse Deus? Do Sinai? O verdadeiro Deus nunca foi vingativo. Os homens é que projetaram em Deus seus baixos impulsos.

E encontramos Jesus nos Evangelhos inventando historinhas, comparações e parábolas para dizer-nos que, afinal de contas, Deus não é nada do que nos metram na cabeça, mas, muito pelo contrário, é ternura e carinho, perdão incondicional, amor eterno e gratuito; que Deus é como o Papai mais querido e que mais ama a terra; que, para Ele, perdoar é uma festa, e que os mais frágeis e quebradiços, os que têm a história mais infeliz no terreno moral e os últimos, esses são os que têm a preferência do Papai Deus.

Chegou a hora de crer no Amor, de superar as fragilidades não por uma culpa repressiva, mas pela dinâmica transformadora do Amor, e em nome daquela revelação central de Jesus a respeito do amor eterno e gratuito de Deus Pai para com cada um de nós.

Vamos nos entristecer? De nada. Envergonhar? De nada. Humilhar? Por nada. Então, que vamos fazer? Como nos dirá admiravelmente o salmo 50(51), reconhecer com humildade e confiança nossa radical impotência, não nos fixando obsessivamente em nossa condição de pecadores, mas na condição misericordiosa e compreensiva de Deus, em seu amor e ternura nunca desmentidos.

Extraído do livro “Salmos para a vida”, capitulo 7, “As misericórdias do Senhor” de Frei Ignacio Larrañaga.