Maria era mais que a Mãe de Jesus. Era também a mãe de João. E, era também – por que não? – a mãe de todos os discípulos, e, inclusive, de todos que acreditavam no nome de Jesus. Não foi esse o encargo que ela recebeu dos lábios do Redentor moribundo? Então, era simplesmente, a Mãe, somente, sem especificação adicional.
Jesus, mediante uma pedagogia desconcertante e dolorosa, foi conduzindo Maria, de uma maternidade meramente humana, a uma maternidade na fé e no espirito. Maria havia dado à luz a Jesus em Belém, segundo a carne. Agora que chegava o nascimento de Jesus segundo o Espírito – Pentecostes – o Senhor precisava de uma mãe no espírito.
E assim, Jesus foi preparando Maria, através de uma transformação evolutiva, para essa função espiritual. Devido a isso, Jesus aparece muitas vezes, no evangelho como subestimando a maternidade meramente humana. E ao chegar Pentecostes, Maria já estava preparada, já era a Mãe no Espírito, e aparece presidindo e dando à luz aquela primeira célula dos Doze que haviam de constituir o Corpo da Igreja.
Maria, segundo aparece nos Evangelhos, nunca foi uma mulher passiva ou alienada. Ela questiona a proposta do anjo (Lc 1,34). Por si mesma tomou a iniciativa e foi rapidamente, atravessando montanhas para ajudar Isabel nos últimos meses de gestação, e nos dias do parto (Lc 2, 7). De que vale, para esse momento, a companhia de um homem?
Quando o menino se perdeu, a Mãe não ficou parada de braços cruzados. Tomou rapidamente a primeira caravana, subiu a Jerusalém, distante 150 quilômetros, percorreu e removeu céu e terra, durante três dias, buscando-o (Lc 2, 46). Nas bodas de Caná, enquanto todo mundo se divertia, só ela estava atenta. Só ela se deu conta de que faltava vinho. Tomou a iniciativa, e sem incomodar ninguém, ela mesma quis solucionar tudo, delicadamente. E conseguiu a solução.
Num momento determinado, quando diziam que a saúde de Jesus não estava boa, ela mesma tomou a iniciativa e se apresentou na casa de Cafarnaum para levá-lo, ou pelo menos para cuidá-lo (Mc 3, 21). No Calvário, quando tudo já estava consumado e não havia mais nada que fazer, então sim, ela ficou quieta, em silêncio. (Jo 19, 25).
Lá em Belém, no Egito, em Nazaré, Jesus não era nada sem sua Mãe. Ela o ensinou a comer, a andar, a falar. Maria fez o mesmo com a Igreja nascente. Sempre estava atrás do cenário. Maria convocava, animava e mantinha em oração o grupo dos comprometidos com Jesus.
Quantas vezes deveria ter passado pelas comunidades reiterando-lhes: recordem de que maneira Ele lhes repetiu: amem-se! Recordem que essa foi sua última vontade. Cumpram o que Ele lhes mandou: Amem-se!
Tirado do libro “O silêncio de Maria” de Frei Ignácio Larrañaga. OFM