Cheguei e entrei na solidão mais profunda do meu ser. Acendi a luz da fé e, ó prodígio! Aquela solidão estava ocupada por um habitante: o Pai!
Se o Pai e eu nos encontramos em um quarto fechado, que vamos fazer? Como adorar? Jesus veio responder: Cuidado com as palavras demasiadas! Agora que o Pai está aí no mais secreto, fique com Ele (Mt 6,6).
Ficar com o Pai quer dizer estabelecer uma corrente atencional e afetiva com ele, uma abertura mental na fé e no amor. Minhas energias mentais (aquilo que eu sou como consciência, como pessoa) saem de mim, projetam-se n’Ele e ficam com Ele. E todo meu ser permanece quieto, concentrado, paralisado n’Ele, com Ele.
Mas não se trata apenas de uma saída minha para Ele, não é só abertura. É simultaneamente uma acolhida, porque existe também outra saída – no amor – d’Ele para mim. Se Ele sai para mim e eu saio para Ele, se Ele acolhe minha saída e eu acolho sua saída, o encontro vem a ser um cruzamento e a cristalização de duas saídas e duas acolhidas. Assim se produz uma união convergente, profunda e transformante em que o mais forte assume e assimila o mais fraco, sem que nenhum dos dois perca a identidade.
E assim, desde o primeiro momento, começa o processo transformador. Quanto mais profundo o encontro, a Presença começa a fazer-se presente, a impactar, a iluminar e a inspirar a pessoa em suas realidades mais profundas como são o fundo vital, o inconsciente, os impulsos, os reflexos, os pensamentos, os critérios… Quanto mais vivo e profundo for o encontro, repito, na mesma proporção, a Presença investirá, penetrará e iluminará os tecidos mais profundos e decisivos da pessoa.
O homem começa a caminhar na presença do Senhor (a Presença está acesa na consciência). Os impulsos e reflexos saindo para fora, saem segundo Deus. E assim, o comportamento geral do cristão (seu estilo) aparece diante do mundo revestido da “figura” de Deus. Sua figura torna-se visível através da minha figura, e assim o cristão se converte em uma transparência do próprio Deus. Dessa maneira, o Senhor continua avançando na conquista de novos espaços, e, como em círculos concêntricos cada vez mais amplos, começa a divinização da humanidade. Entretanto, tudo começou no núcleo da intimidade. Lá estão encerradas todas as potencialidades.
Tirado do livro “Mostra-me teu Rosto” Capitulo IV subtítulo: “Ficar com o Pai” de Frei Ignacio Larrañaga.








