Fala a esperança
Você tinha levantado sua casa sobre a espuma da ilusão. Por isso ela desmoronou mil vezes, com o vaivém das ondas. A areia loura das praias foi o fundamento das suas edificações, e a ruína era inevitável.
Suas regras de jogo foram os cálculos de probabilidades e as constantes psicológicas, e os resultados estão aí. Mas tenho uma palavra final para lhe dizer neste amanhecer: ainda pode ser; a esperança ainda é possível, amanhã vai ser melhor.
Vamos começar outra vez.
Se até agora houve ruínas, de agora em diante, vai haver castelos de luz apontando com sua proa para vértices eternos. Se até agora você colheu desastres, lembre-se: estão chegando primaveras cintilantes.
Por trás da noite fechada há altas montanhas, e, por trás das montanhas noturnas, vem galopando a aurora. Só é belo acreditar na luz quando é noite.
Por trás do silêncio respira o Pai. A solidão é habitada por sua presença, e lá em cima esperam-nos o descanso e a libertação.
Venha. Vamos começar outra vez.
Eu nasci numa tarde escura, em u morro pelado, molhada de sangue, quando todos repetiam em coro: está tudo perdido; não há o que fazer, o sonhador morreu; acabaram-se os sonhos.
Nasci do seio da morte. Por isso a morte não pode destruir-me. Sou imortal porque sou filha primogênita do Deus imortal. Mesmo que você diga mil vezes que tudo está perdido; vou responder mil vezes que ainda estamos em tempo.
Se até agora os êxitos e fracassos foram se alternando em sua vida como os dias e as noites, desde agora, cada manhã Jesus ressuscitará em você e florescerá como primavera sobre as folhas mortas do seu outono. Ele vencerá em você o egoísmo e a morte. Sim, o Irmão vai tomar a sua mão para dirigi-lo pelas colinas transformadoras da contemplação. Voltarão a tremular suas antigas bandeiras: Fortaleza, Amor, Paciência…
A Pureza vai alçar sua cabeça nua de prata em seus laranjais, e a Humildade vai florir, invisível, por baixo de todas as flores de seu jardim. Você vai resplandecer com o fulgor dos antigos profetas no meio do povo sem conta. Quando o virem, todos dirão: é um prodígio de nosso Deus.
Venha. Vamos começar outra vez.
Os pobres vão ocupar o recanto mais privilegiado de teu jardim. Quem são esses que, como um enxame, acorrem pressurosamente para você? São todos os esquecidos do mundo, os que não tem voz. Nem esperança. Nem amor. Vêm beber das suas primaveras acendidas pelo Ressuscitado.
Olhe: essas estrelas azuis ou vermelhas faíscam desde a eternidade e até a eternidade. Seja como elas: não se canse de brilhar. Semeie pelos campos secos e cumes agrestes da misericórdia a esperança e a paz. Não se canse de semear, mesmo que seus olhos nunca vejam as espigas douradas. Os pobres, um dia, hão de vê-las.
Caminhe. O Senhor Deus será luz para os seus olhos, alento para os pulmões, óleo para as feridas, meta para o seu caminho, prêmio para o seu esforço.
Venha. Vamos começar outra vez.
Tirado do livro “Mostra-me teu rosto”: Conclusão. Item: Duelo entre o desânimo e a Esperança, de Frei Ignacio Larrañaga.